quarta-feira/2013
Hoje é meu aniversário e minha casa vazia se enche da espera.
Batem a minha porta e aliso meu vestido com as mãos para tentar desamassá-lo. Repuxo os cantos da minha boca em um ensaio de sorriso e giro a maçaneta. É um vendedor de panelas. Ele não me deseja um feliz aniversário, mas assim mesmo eu compro um conjunto que não precisarei usar. Ele agradece pela compra e vai embora sem aceitar um copo de água.
Penso que preciso encontrar um dono para estas panelas fadadas ao esquecimento, mas hoje não. Hoje é meu aniversário. Sinto a necessidade de ficar por aqui, caso alguém se dê conta e queira me encontrar. Pode ser que alguém se lembre. Encosto-me na parede e me sento ao chão.
As horas passam, a casa em silêncio. Talvez eu devesse aceitar que ninguém vem.
Vou esperar mais um pouco.
O sol já foi embora, foi visitar o outro lado do mundo, também sem se dar conta da data especial. Na janela o escuro da noite me contempla e eu acho que uma personificação daquela noite saberia que hoje faço idade. O vento é barulhento, mas não diz nada. Talvez se eu sair da janela alguém apareça.
Talvez eu devesse aceitar que ninguém vem.
Sem bolo, pego uma vela branca e acendo-a. Faço um pedido em sussurro e sopro suavemente, a chama se extingue.
Espero mais um pouco.
Apago a luz e me deito no chão, permitindo o sono.
Amanhã não será mais meu aniversário, mas continuarei esperando que alguém venha me visitar.
, Ella A.