Vivo sozinha em uma casa térrea e bem pequena. O sol tem dificuldade para entrar pelas janelas estreitas e os cômodos estão sempre mal iluminados. Apesar do tamanho, a casa tem dois quartos, que não me servem de nada porque durmo na sala.
Quase não tenho pertences, convivo com aquela ânsia de fugir a qualquer momento, então prefiro não ter nada além de roupas, cadernos e uma mala. Qualquer outra coisa encontrada na casa são resquícios dos moradores anteriores, que preservei como forma de estabelecer uma ligação com suas histórias, são poucas coisas que me contam pouco, mas é o suficiente, acho.
O resquício que mais gosto é o buraco na parede de um dos quartos, há nele apenas um fio elétrico solto. Imagino que antes ligava algum abajur, em uma tentativa de clarear o ambiente. Todas as lâmpadas de dentro da casa são amarelas e bem fracas, e eu penso que naquele buraco, para variar, tinha um abajur de luz branca. Não sei explicar o porquê, mas pensar sobre isto me deixa feliz.
Já o piso quebrado do corredor me incomoda. Apesar de provavelmente ser resultado apenas de desgaste pelo tempo, aquele ladrilho faltando, os desencaixes… Aquele chão me remete a violência e isto me causa desconforto.
Meu lugar favorito é a janela da sala, que dá vista para a rua. Muitas histórias são contadas por aqueles personagens que transitam na minha frente. Aproveito as narrativas como espectadora até que eles escapam do limite da minha visão (emoldurada pela janela), aí então preciso sozinha contar como tudo continuou.
Eu gosto daqui, mas acho que não sentiria falta se fosse embora.
, Ella A.