Naquele dia eu já cheguei bêbada na festa. Eu tinha acabado de vir de outro aniversário, em um bar com muita gente chata, onde não tinha muito o que fazer além de beber. Logo, eu estava tão bêbada quanto você possa imaginar.
É muito estranho entrar em um ambiente que nunca antes viu sóbria. As percepções não tem um referencial, então é tudo muito exagerado. O som parece muito mais alto, as paredes muito mais largas e as pessoas muito mais atraentes.
Como na maioria das festas, os grupos divididos falavam de um assunto em comum: a vida amorosa de alguém. Passei por alguns deles para decidir qual história me interessava mais.
Em um canto tinha uma menina apaixonada por outra que não estava respondendo suas mensagens direito, e todos ao redor liam cada virgula das mensagens enviadas em busca de brechas para interpretar as intenções que me pareciam muito claras: ela não estava interessada. Banal. Próximo!
No outro canto era apenas um menino se gabando de como tinha encontrado seu par perfeito. Eu tenho certa preguiça de pessoas muito apaixonadas, então não dei atenção. Próximo!
Do outro lado o clima era de mistério e minha curiosidade atiçou.
Uma garota contava que tinha conhecido um cara em um aplicativo, e que ele era incrível: bonito, gostoso, carinhoso, divertido. Eles já estavam ficando havia alguns meses, mas sempre na casa dela. Ele desviava do assunto sempre que ela falava de conhecer a casa dele, a família dele. Não tinha nenhuma rede social ou qualquer registro online.
Ao redor, cada pessoa sugeria uma possibilidade para aquilo tudo. Uma falou que ele com certeza estava usando um nome falso, outro completou dizendo que provavelmente porque já tinha uma família, outra questionou se ele não seria um refugiado da justiça. Alguém bastante cético disse que era tudo coisa da nossa cabeça, que uma pessoa não pode ter rede social que já é suspeito. Outra pessoa achou que talvez ele não tivesse casa.
Depois de certa insistência, a menina mostrou uma foto dele no aplicativo e eu logo o reconheci, mas tentei fingir surpresa como todos os outros. Aquele era o cara mais babaca que eu já tinha conhecido na minha vida, tinha estudado com ele na escola. Ele tinha rede social sim, casa, não tinha outra família nem era um criminoso. Ele era só babaca que não sabia ser sincero com seus sentimentos e tava só usando aquela menina para sexo.
Eu me questionava como poderia contar aquilo para aquela garota iludida, mas me chamaram para comer bolo e, como toda bêbada, só percebi que esqueci de avisá-la no dia seguinte ao acordar de ressaca.
,Sam Terri