Falava, gritava, sussurrava, esperneava. Parecia que estava falando sozinha, parecia que ninguém queria lhe ouvir.
, Ella A.
No início a impressão que tinha era que a vida era longa demais. Que demoraria muito a passar.
Mas no meio se sentia como se já estivesse no fim. Cada vez mais rápido, o tempo corria e cada dia que passava era um dia a menos.
No final os esforços todos eram para tentar recuperar o tempo perdido. Aquele tempo que já tinha sido e nunca mais voltaria a ser.
, Ella A.
Quando acordou, bem cedo naquela manhã, brincou com as crias, correndo em círculos e jogando terra para os lados. Catou alguns piolhos nas costas de sua companheira, que retribuiu o gesto, catando piolhos em suas costas também. Subiu em uma árvore, comeu uma maçã e duas bananas, e depois tirou uma soneca na sombra, com a brisa do lago batendo em seu rosto.
Ao contemplar a natureza, o macaco inconscientemente agradecia que a evolução não funciona de forma rápida o suficiente para ele acordar no dia seguinte sendo ser humano.
, Ella A.
Ao por a mesa, colocava dois copos, dois pratos, dois conjuntos de talheres. Eram duas toalhas de banho no banheiro, duas escovas de dentes, dois roupões. A cama era de casal, com dois travesseiros.
Acostumou a ser dois, e deixou de perceber que sempre foi um.
Não sabia mais ser um, acabou virando metade.
, Ella A.
Bastante ao sul do planeta, ali embaixo, num cantinho. Um lugar tempestuoso, era lá que muitos navios afundavam. Parecia uma ideia questionável, ruim até, usar aquele trajeto com tantos perigos, riscos. Melhor era se manter seguro. Isso até perceber: apesar dos pesares, era o caminho que levava aonde queriam chegar.
O que era das tormentas por fim se tornou da boa esperança.
, Ella A.
“Feliz”, era o que respondia, quando pequena, à pergunta do que queria ser quando crescesse.
Tão abstrato, mas tão certo. Logo percebeu que para ser feliz precisava de felicidade.
A busca começou e pendurou. Foram anos e mais anos até enfim concluir: não bastava felicidade para que fosse feliz.
, Ella A.