Sobre a festa eu não sei bem o que devo e o que não posso lhe contar. É bem provável que estes aspectos se convirjam, e isso em nada facilita meu trabalho.
E ainda me lembro de tão pouco.
Era final de um ano e começo de outro. A casa era minha, mas eu não conhecia metade das pessoas que estavam lá. Bebida era o que não faltava, mas não tinha champanhe. Nada de lentilha, só amendoim. Em todo caso comi nove balas de uva e contei como superstição o suficiente para aquela noite.
Depois da meia-noite as coisas começam a não fazer sentido algum, pelo menos na minha cabeça. O ano já era novo, mas eu ainda tinha que lidar com resquícios do velho: os efeitos de toda aquela bebida e daquele bolinho de maconha que eu tinha comido.
As pessoas passavam por mim como vultos, e eu posso jurar que metade delas estava apenas usando suas roupas de baixo. Fui beijada por alguns, e não consigo dizer com certeza quantos dos beijos eu retribui.
Girando, girando. Meus movimentos de dança foram ficando cada vez mais fluídos e rotatórios. Não importava mais a música, eu ia dançar sempre igual.
Até que eu parei de girar, mas minha cabeça continuou girando. Abandonei a festa e fui para o meu quarto dormir. Expulsei o casal que se pegava na minha cama, tranquei a porta e me deitei. Fechei os olhos.