Todo o trabalho de Ella A. representa uma busca incansável por sua identidade, que nunca será encontrada porque não existe.
Conta por aí que nasceu em um país que foi tomado por uma ditadura e, quando conseguiu fugir, passou anos percorrendo um deserto e estradas vazias até chegar aqui. Mas foi mesmo? Tenho a impressão de que perdeu a memória e criou uma história para explicar este passado que não se lembra.
Em seus textos, fala bastante de outras pessoas, mas destas há um distanciamento porque ela não consegue se relacionar, isto é revelado em suas fotografias, raramente apresentando um elemento humano (que quando aparecem são apenas fragmentos). Não as conhecendo de verdade, as histórias por Ella contadas tendem à fantasia, ao irreal, como se sua vontade fosse de completar uma ideia vaga que tem do outro. Mesmo quando fala de sua relação com alguém, sempre foi uma relação vazia, como se em momento algum houvesse uma conexão.
A fotografia e o texto foram as formas que ela encontrou para estabelecer alguma relação com o mundo, uma maneira de se aproximar e obter uma representação de si em um contexto. Porém, ao mesmo tempo que ela busca se explicar a partir de personagens que a cercam, ela mantém sua distância, se negando a fazer parte da vida deles.
É inocente porque tudo lhe é desconhecido. Esforça-se para entender o mundo como ele é, mas se perde nos próprios pensamentos e é como se uma névoa de fantasia não lhe permitisse enxergar e relatar a realidade. Vive em seus próprios devaneios.
Ella tenta, mas ela não pertence.