A conheci em uma praça. Estava anoitecendo e eu tinha acabado de me sentar em um banco desconfortável de frente para o parquinho, onde crianças gritavam e corriam pela areia. Fiquei com vontade de brincar no balanço, mas logo desanimei só imaginando os olhares de reprovação que eu receberia. Eu era velha de mais pra o balanço.
A primeira vez que a vi, ela estava parada em pé ao lado de uma árvore: uma mulher de pele cor de caramelo com grandes olhos escuros. Seus cabelos cor de pólvora eram tão longos que chegavam à linha do seu quadril: ondulados, volumosos e cobertos por um véu vermelho. Usava uma saia até os pés, rodada e em camadas, em que o tecido preto se intercalava com o vermelho.
Eu devo tê-la olhado mais do que deveria, porque ela me olhou de volta e encarou. Rapidamente desviei o olhar, mas de canto de olho a percebi vindo em minha direção. O cheiro de cinzas e almíscar se aproximou com ela, que parou ao meu lado. Sua presença era muito forte e eu não consegui evitar olhá-la outra vez.
Ela disse oi e perguntou se eu tinha algum dinheiro para lhe dar. Eu não tinha e ela pareceu desapontada por um segundo, depois se sentou ao meu lado.
– Você se importa de eu ler sua mão?
Estendi a mão esquerda e a moça a segurou, suas mãos congelando me fizeram tremer, ou talvez fosse a energia que passávamos de uma para a outra. Não, eram as mãos congelando mesmo.
Ela passou os dedos pela palma da minha mão, fazendo um pouco de cócegas. Depois, olhou diretamente nos meus olhos, aquele olhar negro e penetrante… Um frio correu pela minha espinha. Então ela voltou a olhar para a minha palma. Ficamos naquela posição por longos minutos.
Ela devolveu minha mão e suspirou em frustração.
– Eu não sei o que estou fazendo. Eu confundo as linhas e esqueço a relação dos dedos.
– Você lê melhor cartas?
– Não, é muita informação pra levar em consideração.
– Então por que não faz outra coisa?
– Meu destino é ler mãos.
– Quem disse?
– Minhas mãos.
, Ella A.