Vizinho

Tinha um senhor bem velhinho que era meu vizinho. A casa dele era a única da rua que ainda usava lâmpada incandescente.

Ele sempre chamava eu e meu irmão para visitar, nos servia chá e nos contava histórias de seu tempo de criança. Aposto que metade delas era inventada, duvido que ele conseguisse lembrar de tantas coisas assim… Naquela idade!

A minha história favorita era a de quando ele pulava o muro dos outros para roubar frutas direto do pé. Reclamei que ele não tinha árvore para eu roubar fruta dele, ele reclamou que ele não tinha quintal para ter árvore para eu roubar fruta dele. Depois daquele dia, ele sempre deixou uma cesta com frutas em frente à porta.

Nós três jogávamos baralho e ele sempre deixava a gente ganhar. Meu irmão preferia tranca, o meu vizinho fazia questão de que jogássemos poker, porque ensinava lição de vida… Era o que ele dizia, pelo menos. Eu só queria jogar baralho.

A gente o ajudava com a louça, e em troca ele nos fazia um bolo de chocolate delicioso. Era viúvo, e a receita ele tinha aprendido com a mulher dele, que ele dizia ter sido uma pessoa extraordinária. Ele sempre falava não saber se existia vida após a morte, mas que torcia pra que sim, só para poder reencontrá-la.

E eu espero que ele a tenha reencontrado. Assim, um dia nos reencontraremos e eu, ele e meu irmão vamos jogar baralho outra vez.

lampada

, Ella A.

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