Apesar de gostar muito de falar sobre mim, me encontro agora meio confusa sobre o que seria importante de ser dito.
Se eu disser meu signo, lua e ascendente está tudo certo e não preciso entrar em detalhes de mais nada?
Talvez eu precise me esforçar um pouco mais.
Sou chamada de Sam. Eu gosto porque tem um ar andrógino. Sinto-me confortável nesta ambiguidade, como se de alguma forma eu estivesse impedindo a interpretação do meu trabalho como voz masculina ou feminina. Mas como estou aqui para contar um pouco mais de mim, devo dizer que Sam é redução do nome Samanta.
Nasci nesta metrópole abismal que chamamos de São Paulo. Não me leve a mal, eu amo este lugar, mas não dá para viver aqui sem este sentimento de estar sendo puxada para baixo o tempo todo.
Suga você, seca você, desestabiliza você.
De certa forma ao falar de São Paulo estou também falando de mim. Eu nunca consegui me desvencilhar daqui. Saio, mas sempre volto. Não me atrevo a largar. Não imagino qualquer outro lugar onde eu conseguiria ter tanta companhia mesmo nos meus momentos mais solitários. A trilha sonora da minha masturbação é o chão sendo varrido no apartamento de cima.
Não concordo com o que dizem sobre cidades grandes. Eu conheço meus vizinhos. Tem o cara do chapéu que sempre me cumprimenta no elevador e comenta do clima, tem a recém chegada do interior que sempre vem me perguntar onde ficam os lugares e como chegar lá, tem aquele homem cuja mãe mora no mesmo prédio e ele sempre liga errado para o meu interfone quando quer falar com ela; tem até mesmo aquela senhora que uma vez me interfonou para perguntar se estava tudo bem depois de ouvir gritos de meu apartamento causados por uma discussão. Somos como uma grande família na qual ninguém sabe o nome de ninguém, mas todo mundo se importa.
Além destas companhias periféricas, meu apartamento está sempre cheio de visitantes. Visitantes e tralhas. Estão sempre esquecendo coisas por aqui. Não sei se é desculpa para voltar. Nem sempre voltam, nem sempre quero que voltem.
Acho que por ora isto basta.
Até mais.
,Sam Terri