Você acendeu seu cigarro estúpido e me deixou falando sozinha para fumar perto da janela. Seu apartamento já cheira à maconha, você cheira à maconha, então não me venha dizer que foi para a janela porque precisava fumar.
Eu percebi os pelo menos cinco minutos que você deixou o cigarro pendurado na boca sem acendê-lo. Era seu jeito de pensar. Eu já tinha me arrependido há muito tempo de ter falado qualquer coisa para você naquele dia. Eu queria ser aquele cigarro. Se eu fosse seu cigarro eu estaria na sua boca, em você. Aproveitaria você inteiro, você se aproveitaria de mim. E o melhor é que eu estaria queimando, queimando, e ao fim do nosso envolvimento eu teria me desfeito e não precisaria lidar mais com você.
Lidar com você. Há de se pensar que eu teria aprendido alguma coisa depois de tanto tempo nos relacionando. Mas não. Eu ainda sentia tanta raiva daquele cigarro estúpido pendurado na sua boca quanto eu senti na primeira vez que você fumou ao meu lado. Aquele cigarro estúpido que estava onde eu deveria estar, que era o que eu deveria ser.
Tive muitas chances de ser aquele cigarro. Mas quando eu pude ir embora, eu fiquei.
, Sam Terri