Vi Sam algumas vezes.
A primeira coisa que notei foi que ela está sempre acompanhada de ao menos uma pessoa, parece que sente desprezo pela solidão. Algumas pessoas são assim, eu acho. Se fica sozinha por um instante, trata de tentar conversa com quem quer que esteja perto, foi assim que acabamos conversando pela primeira vez.
Era uma reunião de vários amigos de uma menina que eu tinha conhecido naquele dia mesmo (eu também tenho essa mania de falar com estranhos), e eu estava segurando um copo de água enquanto olhava um quadro pendurado na parede, era um circulo roxo em meio a um fundo preto, feito de pinceladas marcadas e irregulares. Achei bonito, então tomei meu tempo em frente a ele. Foi quando Sam se aproximou de mim, claramente alterada pelo excesso de álcool, olhou para o quadro, me olhou, olhou o quadro, e disse:
– Já faz tempo que você está aqui.
Parecia incomodada com isso, como se eu estivesse fazendo alguma coisa muito errada.
– As cores, as pinceladas… Eu gosto.
– Aham. – pareceu desinteressada – Qual é seu nome?
– Ella, e o seu?
-Sam.
Seus olhos voltaram para o quadro, depois olhou ao redor e saiu dizendo que tinha sido um prazer e que conversávamos mais tarde, então foi cumprimentar alguém que conhecia. Eu voltei a olhar para o quadro.
O que mais me chama atenção em Sam é que ela se irrita fácil. A sua impaciência é singular. Fala alto, joga bebida no rosto dos outros e quebra copos, muitos copos. Por outro lado, parece uma pessoa muito amável, do tipo que se importa com aqueles com quem se importa (algumas pessoas não se importam com quem se importam).
Mas tudo isso observei de longe, não nos conhecemos direito. Como eu disse no começo, eu a vi muitas vezes, e muitas vezes apenas a vi.